sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Senti(r)do(r)

Querida pessoa que sente demais,

Há muito tempo eu quis lhe escrever. Talvez você esteja recebendo uma das cartas mais difíceis que já escrevi e peço desculpas caso ela não chegue ao fim ou se perca no meio das concordâncias (eu sempre digo que é mais fácil escrever sobre o amor dos outros, risos). Eu perdi as contas de quantas vezes abandonei esse papel em branco, vazio, gélido e cristalino. Eu já perdi as contas, o prumo, o rumo. E talvez essa fuga seja pelo fato de estar me descrevendo e despindo com a mesma velocidade que esse lápis percorre essa carta. Eu só queria dizer que eu conheço esse sentimento de perto. Eu já chamei de fardo, sorte e dom. Eu queria que soubesse que eu conheço isso de sentir TUDO intensamente. Conheço a dureza da colisão com que a vida nos encontra. Eu conheço a solidão, esse sentimento de não pertencimento, essa incessante busca de encher esse vazio sabe-se lá de que, eu conheço, sobretudo, esse caminho duro que é não ser compreendido. Por muito tempo eu tentei mudar, me vesti de uma pessoa racional, mas já posso adiantar que não cheguei muito longe. Na verdade, nem houve linha de chegada. Eu só preciso lhe dizer, está tudo bem. É teu jeito de não ser raso que pode transbordar o mundo. É no teu ser demasiado que está a sua essência. Eu repito, está tudo bem sentir assim. Sei também que na teoria, é poeticamente lindo e que na realidade isso fere como navalha. Mas você precisa saber o ser humano lindo que é e queria lembrar a sorte que o mundo tem de ter alguém como você por aqui. Que sorte a nossa, meu bem! Você não está sozinho. VOCÊ NÃO SONHA SOZINHO! Descanse um pouco, dance, ouça Beatles, coma palha italiana, desacelere um pouco o passo quando estiver passando por uma praça e declare aberta a temporada de ser exatamente o que se é. Vai ficar tudo bem, eu prometo 
Com todo amor do mundo,
Maria Clara Luz

terça-feira, 8 de agosto de 2017

Part-ir



Eu amei tudo em você desde que meus olhos alcançaram os teus. Naquela noite eu era tão sua que pouco importava o passado pesado e o futuro incerto. Tratamos de viver cada fração de segundo com toda a intensidade que aquele reencontro tão sonhado merecia. E foi ali entre lágrimas, confissões, sorrisos, copos e corpos, que conseguimos admitir sem palavras que não nos pertencíamos mais. Deixamos para ser racionais no amanhã, na nossa noite só cabia desvendar os lugares que nunca tínhamos alcançado, era questão de honra e de amor. O amanhã tinha os outros, o tempo, a distância e o fato de nosso carnaval ter passado tão depressa. Eu acho que cumprimos nossa missão lindamente e profundamente. Enquanto você dormia feito criança em colo materno, eu, por dentro, vi-me petrificada e incrédula. Eu observei o seu teto e o quanto as paredes daquele quarto parecia me proteger do mundo. Eu estava nos teus braços e o que carrego hoje na mala não tem peso e perdão. Nós existimos e só. Dentro de uma noite colorimos todos aqueles anos inacabados e mal resolvidos. Naquela noite, nós chegamos e partimos.

(E está tudo bem assim também)

terça-feira, 11 de julho de 2017

Querido Pablo,
Vi um anuncio outro dia, sobre promoções de viagens com a seguinte frase: ”Na nossa companhia você pode ir para qualquer lugar, consulte nossos preços promocionais!” Dei uma lida nos preços de Portugal, México e Itália. Necessariamente nessa ordem, eu sei, você está pensando o quanto eu sou previsível e seu sorriso agora tira um pouco o peso da distância que essa carta lhe trouxe. Eu sempre imaginei a gente de mãos dadas em Lisboa, respirando as canções mexicanas e sonhando com Verona. Eu imaginei nossos mergulhos no mar, sem sequer imaginar o mar de distâncias que nos afogaria hoje. Sei que somos o passado um do outro. O tempo se encarrega de renomear a gente, é coisa dele, não podemos questionar. Eu só queria que soubesses que eu não sei exatamente quanto tempo perdi fugindo da nossa historia, mas em segredo, te confesso, se eu pudesse ir para qualquer lugar do mundo como o anúncio gritou, eu escolheria ir para dentro do teu peito.
Louise

segunda-feira, 22 de maio de 2017

Bilhetinho

Querido amor que vai chegar,

Parece que escrever para você  faz-me  desenhar seu nome, seus cabelos, seu sorriso. Mesmo que ainda não nos conheçamos, mesmo que eu ainda não saiba seu nome, você precisa saber o quanto me inspira, o quanto faz com que eu mantenha a fé no amar.

Eu nem sei medir a saudade que sinto do que ainda vamos viver. Eu nem sei medir a saudade dos abraços que daremos.

Não tenha pressa, porque eu estou em paz aqui. Viva tudo que precisa viver (segredo: é por aí que você vai me encontrar).

" Tô" te esperando para ser sua.
"Tô" te esperando para te chamar de meu.

Com amor paciente,
Clara

domingo, 5 de março de 2017

sábado, 4 de fevereiro de 2017

Ervilhas


Eu não sei se os seus cabelos continuam embaraçados atrás da orelha. Não sei se você finalmente conseguiu tirar a sua carteira de motorista, muito menos se aquele cachorrinho da sua mãe parou de mastigar os seus chinelos. Demorei dois anos para entender que não faço mais parte da sua vida. Foi um processo doloroso, confesso. No início evitei qualquer receita que levasse ervilhas. Ervilhas. Deus, como as odiei! Eu detestava lembrar como você ficava irritantemente lindo retirando-as dos pratos. Eu odiava, sobretudo, a sua essência cristalina e intocável. Você não podia ter me decepcionado um pouco? Imergi, então, no que eu tinha. Deixei doer. Sangrei. Passei pelas fases do luto como uma aluna aplicada e sinceramente não creio estar próximo ao fim desse processo de desamor. Eu não quero que deixes de existir em mim, no entanto, habitas outro comodo em minh'alma. Seguimos existindo longe, sem ultrapassar essa linha que a vida desenhou. Você aí e eu daqui. Isso não quer dizer que em todos os dias não o vejo sorrindo em todos os pontos da cidade, eu só talvez tenha entendido que ervilhas não são tão amargas assim.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Impenetrabilidade

Querido Emanuel,

Eu poderia morar aqui, no seu peito por toda a minha vida.
Eu preciso escutar as batidas desenfreadas do seu coração por mais alguns minutos...
Deixe-me duvidar de Newton, enquanto observo os nós de nossas pernas. Deixe a sua respiração dançar com a minha. Você guia. Eu guio. Sístole. Eu não vou parar. Diástole. Lua. Ar.
Eu quero morar na sua respiração. Eu quero aprender você. Eu quero esquecer quem sou, mas ao seu lado. 

Sua,
Maria.