quinta-feira, 29 de agosto de 2013

É dor de amor, Orfeu

Nunca pensei no peso de uma caneta, Orfeu.
Nessa madrugada, essa daqui pesa uma vida. Engraçado, parece que perdi o jeito de conduzi-la. Parece que estou escrevendo em um muro de chapisco. Sabe? Antes era fácil, eu me sentia uma senhorinha vestida de coragem para tirar meu senhor para dançar, em um bailinho de terça-feira a noite. Era fácil conduzi-lo mesmo com toda aquela artrite e ossos enfraquecidos.
Já são duas horas da manhã, e você veio. Você poderia não ter vindo. Mas você escolheu vir.
São duas da manhã, e você esqueceu seu cotovelo em baixo da minha cabeça. E por mais que eu mecha, você não acorda. É aquela nossa historia, de sermos abrigo um para o outro. Eu gosto, mas o muro de chapisco insiste em destacar os meus erros ortográficos, como se eu simplesmente não pudesse seguir sem eles. Sabe, eu não gosto do jeito de lado que eles me olham, um olhar tão penoso, que é como se gritassem: VOCÊ OUTORGOU ESSAS DORES.
Já são quase três, Orfeu...vou dormir sem fazer sentido essa noite. E se eu colocar Fenir aqui? Quantos olhos iriam me condenar? Muito embora fenir soe bonito, ela acaba de ser inventada. “Fenir – do meu latim: Ultrapasse as linhas, Clara.” Rosa para ela e azul para ele. Colora sem ultrapassar a linha.
Não, meu querido Orfeu, nessa madrugada eu não conheço a coerência e as onomatopeias que antes gritavam, juntaram sua poesia em uma mala pequena, e foram embora. Elas sempre vão.
Meu amor, perdoe a luz acesa até agora, mas hoje eu ainda não dormi. Eu teria dormido as 22:00 se lá atrás eu tivesse dito: Não, professora! O desenho pode ser belo, se eu colorir fora das linhas. Nossas mãos doeriam menos, Orfeu. A caneta pesaria menos!

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