terça-feira, 25 de setembro de 2012

Aqui jazem seus versos, amor

   

       Até tentaria escrever-te uns versos. Mergulharia minha inspiração em uma daquelas antologias poéticas, amareladas e esquecidas na estante. Talvez, até varasse minha madrugada gélida, tomando doses generosas de Eças, Vinicius e Carlos. Seria fácil, é sempre mais fácil escrever o amor dos outros.
      Até tentaria escrever-te uns versos.Chegaria no teu mundo e pediria ao garçom algo próximo de " Hey amigo, entregue isso para o  moço de cabeça baixo da segunda mesa. Aquele cuspindo o gosto da solidão em todos aqueles cigarros mal tragados, e secando suas lágrimas naquele whisky vagabundo". Certamente, o garçom me fitaria com um ar capitalista, sobre minha atitude e certificaria uma ou duas vezes, se aquela era mesmo a minha vontade. Pobre garçom, morreria sem saber que naquele dia, teve em suas mãos um amor esboçado em um guardanapo amassado.
    Até tentaria escrever-te uns versos, se eu não soubesse que aquela manchinha sobre a data da última carta, era salgada demais para um mero pingo de chuva. Sim, eu até tentaria escrever-te algo, se teu cheiro já não estivesse impregnado meus dias, e se nossos caminhos já não teimassem em se cruzar. Sobretudo, eu juro que tentaria te escrever uns versos, se teus versos já não estivessem todos escritos em mim.


 


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