(Desenho - Leo Sales) |
Querido Vicente,
Suas costas! Sim, essa foi a última coisa de que eu me lembro. Foi tudo o que fiz antes de fechar a porta e sair correndo. Eu guardei coisinhas de você enquanto guardava minhas lágrimas desobedientes. Eu desenharia seu corpo com exatidão e maestria, mesmo não entendendo nada de desenhos. Naquelas frações de segundo em que tudo desmoronava, eu morei na sua pele e no cheiro de poeira da sua sala de estar. Tinha uma linha desfazendo o bordado do seu jeans, enquanto tudo se desfazia em mim. Sentia o peso daquela fechadura enferrujada enquanto o peso da partida feria-me os ombros. Havia uma gota de chuva escorrendo do seu telhado enquanto tudo dentro de mim escorria. Eu corria e tudo que eu me lembrava era de como minhas mãos corriam felizes pelas curvas revoltas
de tuas costas. Eu olhei e vi teus olhos fixados ao chão e tudo que consegui fazer foi lembrar de como seu
olhar abrigava o meu. Então, querido Vicente, enquanto eu batia aquela porta, tudo o que eu fiz foi eterniza-lo em mim.
Com amor,
Clara.
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